Com a temperatura se elevando e o verão à vista, aumenta a frequência do uso de piscinas, tanto no ambiente doméstico como em clubes, parques aquáticos e hotéis, assim como a procura por ambientes aquáticos naturais. Milhares de pessoas buscam o frescor e o bem-estar proporcionado por atividades aquáticas nesta época do ano. Contudo, alguns cuidados são necessários para se evitar que a diversão tenha que ser interrompida porque crianças ou adultos adquiriram doenças veiculadas pela água. Aprender um pouco sobre estas doenças e como evitá-las é muito importante para todos nós.
Vários são os microrganismos que causam doenças quando presentes na água de recreação. A maioria são bactérias, vírus ou protozoários patogênicos. Dentre as bactérias temos a E. coli, a Legionella, a Shigella, dentre outras; vírus como Rotavirus , Norovirus e Adenovirus são também frequentes e entre os protozoários temos o Cryptosporidium e a Giardia, por exemplo. As doenças mais comuns são as que afetam o trato gastrointestinal provocadas pela ingestão de água contaminada com um ou mais destes agentes infecciosos, mas a inalação de gotículas ou aerossóis contaminados pode resultar em infecções respiratórias graves, tanto em ambientes naturais como em ambientes aquáticos artificiais. Além disso, o contato de água contaminada com os poros da pele ou com lesões pode resultar em dermatites, foliculites e feridas infectadas.
O risco é maior quando as atividades aquáticas ocorrem em lagos, rios, cachoeiras e represas que são contaminados com esgotos, muitas vezes liberados em cidades vizinhas, constituindo um tipo de contaminação não prontamente detectável pelo usuário. Outra fonte de contaminação da água de recreação é a água de enxurrada que arrasta tanto dejetos animais quanto humanos. Nestes ambientes naturais, a disponibilidade de matéria orgânica e de nutrientes, luz e oxigênio contribuem para a proliferação de microrganismos patogênicos, inclusive de cianobactérias e de algas produtoras de toxinas, elevando a possibilidade de contato com a pele, ingestão ou inalação do microrganismo ou de suas toxinas no decorrer das atividades de recreação.
As piscinas, spas e ofurôs podem apresentar problemas semelhantes. Mas qual a origem dos microrganismos patogênicos presentes nestes ambientes? O comportamento inadequado dos usuários é o principal problema! Por falta de informações suficientes sobre as doenças de veiculação hídrica as pessoas adotam atitudes errôneas colocando em risco a sua própria saúde e a de todos os usuários destes ambientes por períodos muitas vezes prolongados. Isto faz com que mesmo ao nível doméstico as pessoas contribuam para a contaminação da água de recreação entrando, por exemplo, em contato com a água sem um banho adequado. Não estou falando de uma “chuveirada”, mas sim de um bom banho que permita a remoção de microrganismos da superfície da pele, inclusive da região da genitália e do ânus. Sei que parece exagerado, mas é isso mesmo que a Organização Mundial da Saúde recomenda para controle da transmissão de doenças em ambientes aquáticos. O acesso direto das pessoas à água resulta na elevação da matéria orgânica na água das piscinas, pois induzirá a liberação de células mortas, gordura e restos fecais que servirão de alimento para a proliferação dos microrganismos presentes e de patógenos em potencial que foram trazidos pelos usuários na superfície da pele, olhos, ouvidos e intestino.
Muitas famílias levam crianças pequenas, que ainda fazem o uso de fraldas, para estes ambientes e aí o perigo é ainda maior. Crianças pequenas, idosos e pacientes neurológicos podem ser incapazes de controlar o esfíncter anal, resultando na liberação não intencional de fezes em piscinas, inclusive as de fisioterapia e de hidroginástica.
Outra situação de risco é representada pela presença nestas piscinas de crianças e adultos que acabaram de ter ou estão tendo uma doença gastrointestinal. Nestes casos, mesmo que o indivíduo não apresente mais os sintomas característicos como vômitos, cólicas e diarreia, o mesmo pode estar liberando o agente infeccioso nas fezes e contribuindo para a contaminação da água e para a transmissão da doença. Não podemos nos esquecer de que a cloração nem sempre é efetuada de maneira correta, que o nível de cloro residual nem sempre é monitorado de maneira eficaz e que outros métodos de desinfecção são ainda pouco frequentes. Além disso, alguns microrganismos são bastante resistentes aos processos de desinfecção como é o caso do Cryptosporidium, de alguns vírus que causam gastroenterite e de cistos de protozoários.
Quanto maior a piscina, maior tende a ser o número de usuários e é ai que teremos os maiores surtos de doenças veiculadas pela água de recreação. Estes surtos podem resultar no adoecimento de pessoas de diferentes idades, moradores de cidades distantes que visitam o mesmo local e, no caso doméstico, membros de uma mesma família ou amigos e convidados, levando inclusive à hospitalização de alguns dos indivíduos infectados, à sequelas graves como no caso da poliomielite (paralisia infantil) ou mesmo à morte. Para evitar estas doenças, o melhor a fazer é educar os usuários, procurar adotar comportamentos seguros e manter estes ambientes artificiais adequadamente desinfetados e monitorados.
Vão aí algumas dicas que podem lhe ser úteis neste verão que se aproxima quando você for utilizar piscinas, spas e ofurôs. Estas dicas vão lhe ajudar a contribuir para sua proteção, de seus familiares, de seus amigos e de todos aqueles que compartilham estes ambientes com você:
Meu nome é Lucia Regina Cangussu da Silva, mineira quase baiana, bióloga, amante da vida, da família, dos amigos, da natureza e da ciência. Sempre adorei estudar e ensinar. Faço isso desde que me entendo por gente! Faço parte do grande grupo dos “nerds”! Já na graduação na UFMG me apaixonei pelo mundo microbiano logo na primeira aula com as Professoras Betinha e Patrícia. Foi realmente um amor à primeira vista e fico sempre me perguntando o motivo, já que os microrganismos nem sempre são tão bons, bonitos e gostosos como se esperaria! Talvez seja porque, como a maioria dos microrganismos, posso quase ser medida em micrômetros. Este mundo invisível sempre me fascinou e não canso de estudá-lo. Tornei-me o que o meu caro professor Humberto Carvalho condenava... estudante profissional! Lamento, Mestre!