A conjuntivite é uma inflamação da conjuntiva, membrana transparente e fina que reveste a esclera que corresponde à parte da frente do globo ocular (o branco dos olhos) e a superfície interna da pálpebra. A infecção pode afetar um dos olhos ou ambos, de modo simultâneo ou sequencial. Os sintomas geralmente desaparecem entre 3 à 5 dias quando se trata da conjuntivite viral e na maioria dos casos não deixa sequelas.
A conjuntivite pode ser causada por vírus, bactérias, alérgenos e produtos químicos. Os surtos de conjuntivite são geralmente causados por vírus e como não existem métodos de rotina nos laboratórios clínicos para seu isolamento ou detecção, a maioria dos surtos só será esclarecida se existirem pesquisadores interessados no tema.
A conjuntivite bacteriana está geralmente associada a uma maior produção de secreção espessa nos olhos que nada mais é que uma secreção purulenta que leva a pessoa a acordar com os “olhos colados”. A exacerbação dos sintomas é característico na conjuntivite bacteriana com hiperemia (vermelhidão) ocular intensa, dor, fotofobia (aversão à luz). Os sintomas também tendem a persistir por mais tempo, em média de 5 à 7 dias.
Na conjuntivite viral, os sintomas são mais brandos, porém podem ocorrer complicações como o surgimento de uma membrana que adere à conjuntiva e os sintomas também ficam exacerbados. Neste caso, a retirada da membrana verdadeira ou pseudo membrana deve ser precoce, para se evitar o temido leucoma corneano (infiltrado subepitelial) que é uma cicatriz corneana irreversível à qualquer tratamento, exceto transplante de córnea.
A diferenciação da conjuntivite viral ao exame de biomicroscopia é feito pelo oftalmologista e se baseia no surgimento da “reação folicular” ou “reação folículo-papilar” (Figura 1).
Dentre os vírus causadores de conjuntivites destacam-se os Adenovírus que causam a grande maioria dos surtos, seguidos pelos Enterovírus e os Coxsackievírus. É muito difícil para o médico diferenciar clinicamente qual é o agente causal de uma conjuntivite, pois os sinais e sintomas de todas as conjuntivites são muito semelhantes.
Os Adenovírus apresentam um revestimento externo proteico (Figura 2) denominado de capsídeo viral que apresenta glicoproteínas espetadas nos vértices formando as espículas virais. São estas espículas que determinam se um Adenovírus será capaz de causar um surto de conjuntivite ou não, pois alguns tipos de espículas apresentam afinidade aumentada pelas células da córnea humana.
Os Adenovírus causam surtos de conjuntivite que afetam milhares de pessoas e que podem durar anos, como já relatado no Japão. Os Adenovírus são importantes agentes causadores de infecções respiratórias e de gastroenterites no homem, podendo causar infecções graves em pacientes imunocomprometidos que resultam em até 55% de letalidade. Infectam indivíduos de ambos os sexos, de qualquer etnia, classe social ou estado nutricional. Estes vírus infectam outros mamíferos, pássaros, répteis e anfíbios e podem ter surgido há uns 400 milhões de anos.
Existem mais de 70 tipos de Adenovírus humanos e eles estão sempre sofrendo recombinação e gerando novos tipos. Os Adenovírus são classificados em sete espécies que são denominados por letras de A até G. A maioria das conjuntivites humanas é causada pelo HAdV-D (Human Adenovirus D) e os do tipo 8, 37, 53, 54, 56 e 64 estão associados à conjuntivite epidêmica.
Os indivíduos infectados por Adenovírus liberarão os vírus por período de tempo variado na saliva, secreção ocular, fezes ou urina dependendo do tipo de infecção. No caso das conjuntivites, a liberação de vírus nas secreções oculares pode ocorrer por até duas semanas.
Os Adenovírus podem ainda permanecer no corpo de alguns indivíduos após a resolução do quadro clínico e este fenômeno é denominado de latência viral. Os Adenovírus podem ficar latentes nas tonsilas palatinas (amígdalas) , adenoides, intestino, sistema urinário e células sanguíneas e podem se reativarem em alguma fase da vida do indivíduo.
Como tudo na vida, existe o lado bom dos Adenovírus! Eles são utilizados como veículos para modernos tratamentos contra o câncer e muitas outras doenças genéticas funcionando como verdadeiros “motoboys genéticos” fazendo a entrega de genes em órgãos humanos específicos.
Os Adenovírus são transmitidos de pessoa-a-pessoa principalmente através das secreções oculares e por objetos e superfícies contaminadas por estas secreções. Sua transmissão é facilitada em lugares com fechados e com aglomerações de pessoas como escolas, creches, asilos, fábricas, hospitais e consultórios médicos, inclusive os dos oftalmologistas (assim a coisa fica difícil, não?).
Os Adenovírus são extremamente resistentes no meio ambiente e permanecem infecciosos por várias semanas à temperatura ambiente favorecendo a ocorrência de surtos prolongados. Por este motivo, o cuidado com a higiene das mãos e com a higiene de objetos e superfícies é extremamente importante no controle dos surtos de conjuntivite por este agente viral.
Os sintomas geralmente perduram por uma semana a 15 dias, mas não é incomum alguns pacientes reclamarem de sensação de cisco nos olhos, dor, redução da acuidade visual e mal-estar generalizado por três a seis semanas.
Como as conjuntivites virais são altamente contagiosas, medidas de higiene e de bloqueio da transmissão são essenciais já que não existem tratamentos específicos para este tipo de virose:
Colaborador: Este post contou com a revisão e adição de informações valiosas do meu ex-aluno e oftalmologista Dr. Rafael Pereira Pinto CRMMG 58434 – Clínica Inovar – (031)37212781 (031)999999998 (031)999992801 – Avenida Prefeito Telésforo Cândido de Resende, 445 – Conselheiro Lafaiete Minas Gerais. Motivo de muito orgulho e gratidão. Que possamos fazer mais posts juntos, querido!
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Meu nome é Lucia Regina Cangussu da Silva, mineira quase baiana, bióloga, amante da vida, da família, dos amigos, da natureza e da ciência. Sempre adorei estudar e ensinar. Faço isso desde que me entendo por gente! Faço parte do grande grupo dos “nerds”! Já na graduação na UFMG me apaixonei pelo mundo microbiano logo na primeira aula com as Professoras Betinha e Patrícia. Foi realmente um amor à primeira vista e fico sempre me perguntando o motivo, já que os microrganismos nem sempre são tão bons, bonitos e gostosos como se esperaria! Talvez seja porque, como a maioria dos microrganismos, posso quase ser medida em micrômetros. Este mundo invisível sempre me fascinou e não canso de estudá-lo. Tornei-me o que o meu caro professor Humberto Carvalho condenava... estudante profissional! Lamento, Mestre!